Pesquisadora traz novo olhar sobre a educação escolar quilombola
A tese, desenvolvida entre 2019 e 2022, vem gerando desdobramentos positivos
Pedagoga e pesquisadora Andréia LibórioA pesquisa de doutorado intitulada “Educação Escolar Quilombola: currículos de formação inicial de professores em uma instituição da Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, ressignificando olhares”, desenvolvida entre os anos de 2019 a 2022 pela pedagoga do IFSP Andréia Regina Silva Cabral Libório, analisou 45 cursos de licenciatura do Instituto, e aponta caminhos importantes que podem contribuir para que os currículos, tanto escolares quanto de formação de professores, sejam repensados a partir de novas perspectivas.
O tema da tese emergiu do debate sobre a inclusão de grupos étnicos que são minorizados, sobretudo nos currículos e na formação de professores. Segundo Andréia, que atualmente atua na Pró-Reitoria de Extensão e integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do IFSP — além de ser membra de uma comunidade quilombola —, há a necessidade da construção e reconstrução de currículos por meio de um olhar atento e sensível às diversidades e aos grupos que são historicamente invisibilizados na sociedade, nas instituições escolares, nos currículos e nas práticas educativas, como é o caso dos quilombolas.
Gerando frutos
A tese tem gerado desdobramentos importantes como, por exemplo, o desenvolvimento do projeto “História e Memória do Quilombo Peropava”, aprovado no edital de fluxo contínuo da PRX, e que culminou na realização de oficinas sobre valorização da cultura quilombola e afro-brasileira, bem como na publicação do livro “Memória e História do Quilombo Peropava”, o qual teve 76 exemplares doados para as bibliotecas dos câmpus do IFSP.
Além disso, foram realizadas ações formativas junto à Diretoria Municipal de Educação do município de Registro. Entre as atividades, foi proposta uma reflexão sobre o processo de luta e opressão histórica dos quilombolas no Brasil, sobretudo pela garantia do território. As ações envolveram 250 professores, 3 coordenadores pedagógicos e 2 supervisores de ensino. A Diretoria de Educação de Registro também recebeu a doação de exemplares da publicação, que podem agora ser utilizados por professores nas práticas educativas.
Andréia destaca que em 2022 houve uma conquista importante com a inclusão da legislação sobre a Educação Escolar Quilombola nos Projetos de Cursos da Educação Básica do IFSP. Mas, segundo ela, ainda há muito a avançar. “Esperamos que as formações desenvolvidas tenham contribuído para reflexões importantes sobre uma educação antirracista, pautada no respeito às diferenças, diversidades e dignidade humana, despertado a consciência para desconstrução de práticas”.
Ainda como desdobramento da pesquisa, está sendo construído um repositório, de acesso gratuito, com atividades educativas sobre educação escolar quilombola, bem como história e cultura africana e afro-brasileira.